Atualização da NR-1: gestão de riscos priorizando pessoas
Um dos temas que vem movimentando o setor de RH das empresas, nos últimos meses, é a atualização da NR-1, norma regulamentadora nº1.
De acordo com a portaria publicada pelo governo em 27 agosto de 2024, as mudanças deverão entrar em vigor até o dia 26 de maio de 2025.
Esse prazo causou uma grande mobilização nas organizações em busca de informações e adequações necessárias. Era preciso entender o que precisaria ser feito para que os critérios fossem atendidos.
A nova NR-1 trouxe mudanças importantes sobre a aplicação da gestão de riscos ocupacionais centrada nas pessoas, com foco em Saúde e Segurança do Trabalho (SST), incluindo os riscos psicossociais que, até então, não eram citados com tamanha clareza.
Essa nova abordagem coloca o trabalhador em lugar de destaque e sinaliza que ele deve ter voz ativa nesse novo processo.
Neste artigo, você vai entender o que mudou na NR-1, como aplicar seus princípios no dia a dia e por que colocar as pessoas no centro da gestão de riscos é o caminho mais estratégico – e inteligente- para reduzir afastamentos, aumentar a produtividade e promover ambientes de trabalho mais saudáveis.
O que é a NR-1?
A NR-1 é uma norma regulamentadora estabelecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que trata das disposições gerais e do gerenciamento de riscos ocupacionais.
Sua função é estabelecer diretrizes para que as empresas se comprometam a disponibilizar postos de trabalhos que sejam seguros e saudáveis para os seus colaboradores.
A atualização dessa norma enfatiza a importância do cuidado com a saúde do trabalhador, incluindo a saúde mental.
A identificação e o manejo dos fatores que coloquem em risco a saúde e a segurança dos funcionários devem ser prioridades na empresa.
Para isso, torna-se necessária a implementação de ações mais claras e objetivas e que estejam adaptadas à realidade de cada organização.
Qual a principal mudança na nova NR-1?
Um dos pontos mais significativos da atualização da NR-1 foi a inclusão explícita dos riscos psicossociais no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO).
Essa mudança reflete uma crescente conscientização em relação à importância da qualidade do ambiente de trabalho e de como isso impacta na saúde física e mental dos trabalhadores e, por consequência, na sua produtividade e permanência nas empresas.
Fatores como metas inatingíveis, sobrecarga de trabalho e assédio moral devem ser identificados e integrados ao inventário de riscos ocupacionais, com o mesmo nível de atenção dedicado aos outros fatores de risco.
Para maior clareza, é importante reforçar que o GRO deve abranger todos os riscos ocupacionais causados por agentes físicos, químicos, biológicos e acidentes.
Também deve incluir riscos relacionados a fatores ergonômicos e os psicossociais ligados ao trabalho.
A elaboração do GRO deve considerar a identificação e a avaliação desses fatores, bem como a implementação de medidas de prevenção, controle e acompanhamento dos riscos ocupacionais, conforme estabelecido pela NR-1.
A orientação é que a gestão dos fatores de riscos psicossociais relacionados ao trabalho seja implementada em conjunto com as diretrizes da NR-17.
Vale destacar que a norma regulamentadora nº1 estabelece parâmetros para adaptar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores.
Isso permite realizar as atividades laborais com eficiência, conforto, segurança e preservação da saúde.
O que são riscos psicossociais segundo a NR-1?
Quando a empresa conduz mal o planejamento, a organização e a execução das tarefas no trabalho, ela expõe o colaborador a riscos psicossociais que podem prejudicar sua saúde física e mental.
Fatores como metas excessivas, jornadas muito longas, assédio moral, conflitos interpessoais e falta de autonomia no trabalho podem ser fonte de estresse, ansiedade, depressão.
Além disso, outros problemas de saúde mental, e não serão mais aceitos dentro das empresas.
Está cada vez mais claro que esse tipo de situação enfrentada por muitos trabalhadores impacta, negativamente, toda a dinâmica da empresa e precisa ser resolvido.
Em um cenário onde produtividade e bem-estar caminham juntos, ignorar os riscos psicossociais já não é mais uma opção.
A empresa que optar por essa conduta deixará de fortalecer os seus resultados e de se adequar ao novo formato da saúde ocupacional.
Por que a gestão de riscos deixou de ser apenas sobre ambientes e passou a priorizar pessoas?
Esse novo olhar da atualização da NR-1 coloca o trabalhador como parte ativa no gerenciamento dos riscos ocupacionais.
Isso reforça que a abordagem deve ir muito além de simples documentos.
Quando a empresa foca a gestão de riscos apenas em relatórios ou equipamentos, ela ignora aspectos importantes para identificar os verdadeiros fatores relacionados ao adoecimento ou à sobrecarga dos colaboradores.
Considerar a percepção de quem vivencia, diretamente, a dinâmica das atividades torna a gestão de riscos mais eficiente e preventiva.
Essa prática parece ser bastante favorável, pois contribui com a redução de afastamentos e adoecimentos.
Empresas que adotam a parceria entre gestores e colaboradores apresentam maior efetividade no manejo dos riscos ocupacionais.
Elas se tornam referência em práticas sustentáveis de gestão de saúde e segurança no trabalho.
Como aplicar, no dia a dia, a gestão de riscos centrada nas pessoas?

Existem algumas estratégias que vão ajudar a sua empresa a colocar em prática essas mudanças. Veja algumas delas:
1. Envolva toda a equipe
Todos os envolvidos nesses cuidados devem agir em conjunto: profissionais de SST, líderes de equipe, alta administração, supervisores de áreas, trabalhadores e demais interessados.
A contribuição de todos é muito importante para um ambiente de trabalho seguro, saudável e sustentável.
2. Considere além dos riscos físicos
Fadiga mental, excesso de cobrança, isolamento e metas desumanas são exemplos de riscos psicossociais e devem ser tratados com a mesma seriedade que os riscos físicos.
A saúde mental tem se tornado um dos principais motivos de afastamento no ambiente corporativo.
Dados oficiais mostram que, em 2024, mais de 440 mil trabalhadores se afastaram por transtornos mentais e comportamentais.
Esses números reforçam a urgência de olhar para a saúde emocional dos colaboradores não como um tema secundário, mas como parte essencial da gestão de riscos ocupacionais.
3. Invista em programas de qualidade de vida
Implemente ações que promovam o bem-estar dos colaboradores, como pausas programadas, sessões de alongamento e estratégias de relaxamento.
Embora esses intervalos possam ser vistos inicialmente como perda de tempo, estudos já comprovaram que essas práticas contribuem, significativamente, para o aumento da produtividade, a redução de afastamentos e a fidelização dos profissionais.
4. Comunique-se de forma clara e objetiva
Nem todos os profissionais da empresa entendem sobre normas regulamentadoras e organização.
E, mesmo que alguns tenham esse conhecimento, lembre-se de que a empresa vai passar por um processo de ajustes, portanto, comunique-se sempre de forma clara e objetiva.
Detalhe cada passo e seja transparente durante todo o processo.
Uma comunicação clara e eficaz facilita a compreensão das mudanças e contribui diretamente para a efetividade das ações implementadas.
>> Leitura recomendada: Guia Completo para uma Comunicação Interna Efetiva
5. Acompanhe casos de afastamento e retorno ao trabalho com mais atenção
A empresa não deve recolocar o colaborador afastado por determinada patologia no mesmo setor e nas mesmas atividades sem antes realizar as correções necessárias para prevenir a recorrência do quadro e preservar sua saúde.
A reintegração precisa considerar o histórico e os fatores que contribuíram para o adoecimento.
6. Busque por ajuda especializada
Mesmo com o engajamento de toda a equipe, se você perceber que a sua empresa não conhece o tema a fundo ou não possui experiência para identificar e avaliar os fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho, então, busque por ajuda de profissionais especializados. Isso vai facilitar esses ajustes!

Perguntas frequentes
O que é a NR-1?
A NR-1 é uma norma regulamentadora do Ministério do Trabalho que estabelece diretrizes para gerenciamento de riscos ocupacionais.
Sua atualização enfatiza o cuidado com a saúde integral do trabalhador, exigindo ações claras e adaptadas à realidade de cada organização.
Qual a principal mudança na nova NR-1?
A inclusão explícita dos riscos psicossociais no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO).
Fatores como metas inatingíveis e assédio moral agora devem ser tratados com a mesma atenção dedicada aos riscos físicos, químicos e biológicos tradicionais.
O que são riscos psicossociais segundo a NR-1?
São fatores relacionados ao planejamento, organização e execução das tarefas que podem prejudicar a saúde mental dos colaboradores.
Incluem metas excessivas, jornadas longas, assédio moral e falta de autonomia, situações que impactam negativamente toda a dinâmica empresarial.
Como aplicar, no dia a dia, a gestão de riscos centrada nas pessoas?
Envolva toda a equipe no processo, considere os riscos psicossociais com seriedade, invista em programas de qualidade de vida, comunique-se claramente, acompanhe casos de afastamento com atenção e busque ajuda especializada quando necessário.
Conclusão
A recente atualização da NR-1 redefine a gestão de riscos ocupacionais no Brasil, trazendo um marco importante para o setor.
Ela prioriza as pessoas e integra explicitamente os riscos psicossociais ao Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO).
Esta nova abordagem, com prazo de adequação até 26 de maio de 2025, amplia a responsabilidade das empresas no cuidado com a saúde dos trabalhadores.
Agora, além de identificar e controlar perigos físicos, químicos e biológicos, as organizações devem ampliar o olhar sobre os riscos à saúde no ambiente de trabalho.
Elas também precisam considerar fatores que afetam a saúde mental e o bem-estar, como a sobrecarga de trabalho, o assédio e outras formas de pressão emocional.
Ao promover uma cultura de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) que valoriza a participação ativa do trabalhador e o cuidado integral, as organizações não apenas cumprem requisitos legais, mas também demonstram compromisso com o bem-estar de suas equipes.
Essa postura representa uma estratégia inteligente para reduzir afastamentos, aumentar a produtividade e construir ambientes laborais mais saudáveis e sustentáveis. Ao reconhecer que o investimento no capital humano é essencial, a empresa fortalece as bases para o crescimento e o sucesso do negócio.

Informações sobre a autora:
Michelle Nery
Fisioterapeuta, palestrante e mentora
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